SAGA KENDO
Artigos:
Hagakure e Bushidô
1. O que é Bushidô?
Inicialmente vamos efetuar uma breve retrospectiva sobre a história do Japão com a finalidade de conhecermos a origem e as transformações dos Samurais, do Código Samurai e do Bushidô.
Nos meados do séc. XI surgiram os Samurais no Japão. Entre eles, destacaram-se os dois grupos mais poderosos: o de Heiji e o de Guenji, nos meados do período Heian. No século XII estabeleceu-se pela primeira vez um governo militar (o governo de Kamakura), o que deu início ao feudalismo no Japão.
Ao organizar o governo, Minamotono Yoritomo procurou dar o último retoque à estética dos samurais, melhorando-a com características feudais. A base desse regulamento consistia na união entre servos e vassalo por um laço de dever moral designado “On” e “Gui”. Um vassalo tinha como dever a absoluta lealdade para com o senhor, e o senhor devia assegurar a subsistência e o bem estar social do vassalo. Era uma lei de amparo mútuo dentro da hierarquia social e militar, que serviu de pedra fundamental para sustentar o governo Kamakura.
Este primeiro código de samurais escrito chamava-se “Gosseibai Shikimoku”. O Budismo (que há mais de seis séculos já havia sido introduzido no Japão) nesse período tomou um caráter essencialmente nipônico e influenciou significativamente os samurais, devido sobretudo ao surgimento de novas seitas, como por exemplo a seita Zen, que ainda hoje predomina em grande parte do povo japonês.
No fim do período Muromati (meados do séc. XVI), o governo Muramati já havia perdido sua força executiva e militar. O laço moral que até então unia o senhor aos seus vassalos acabou se desfazendo. Assim, deu-se início ao famoso período de Sengoku no séc. XVI. Este período foi uma época de confusões.
Os senhores feudais haviam se apoderado de grandes regiões, e todos eles tinham a ambição de centralizar os poderes provinciais. Esta ambição trouxe a decadência da ética dos samurais: o laço moral que outrora unia o senhor ao seu vassalo rompera-se.
Após uma longa época de Sengoku, Tokugawa Ieyassu estabeleceu um governo no começo do séc. XVII que se estendeu por quase 300 anos. Tokugawa planejou cuidadosamente e promulgou normas rigorosas para os vassalos consolidando o regime feudal novamente.
Na época de Tokugawa os princípios fundamentais eram os do “Confucionismo”, que eram levadas muito a sério e influenciaram bastante o Código do Samurai, o Bushidô.
A influência do Confusionismo neste período transformou os guerreiros ambiciosos e violentos do período Sengoku em cavaleiros nobres e educados. Neste período foi concretizada “A Teoria do Bushidô”por Yamaga Sokoh, baseada no Confucionismo e determinada como o Estudo oficial do governo de Tokugawa. Esta teoria do Bushidô foi propagada amplamente em todo território nipônico e penetrou profundamente em todas as classes do povo, tendo sido transmitida e seguida durante 300 anos na história do Japão. Este é o alicerce da formação do povo do Japão.
2. O que é Hagakure?
Após a unificação do país pelo estabelecimento do governo Tokugawa, o povo japonês desfrutou de um longo período de paz e prosperidade. Consequentemente começaram a surgir novamente sintomas de depravação do Bushidô no séc. XVIII.
Os samurais da província de SAGA (antiga Nabeshima) Yamamoto Tsunemono e Tashiro Tsuramoto sentiram profundamente a decadência do Bushidô: assim surgiu o Hagakure. Eles levaram 7 anos para terminar a compilação do Hagakure a partir de 1710.
O Hagakure é composto de prefácio de 11 volumes. Foi narrado por Yamamoto Tsunemono e escrito por Tashiro Tsuramoto. Os livros explicam o modo de viver, de morrer, de servir ao senhor feudal como samurai de Nabeshima, enfatizando a fidelidade, a benevolência, responsabilidade e vergonha os quais foram as normas dos samurais de SAGA.
Atualmente o Hagakure tem sido divulgado não só no Japão, mas também no mundo inteiro como sendo um livro clássico de filosofia. Os estudiosos e adeptos do Hagakure tem aumentado consideralvelmente nos últimos anos.
No Japão existe a Academia de Estudos do Hagakure, a qual promove simpósios internacionais sobre o Hagakure com grande êxito, chamando a atenção do mundo inteiro.
3. Qual a influência do Bushidô nos tempos atuais?
O espírito do Bushidô, tradição milenar no Japão, é o caminho para a formação do caráter do indivíduo que serviu, seve e servirá em qualquer lugar e época.
O Bushidô influenciou e contribuiu significativamente à formação do espírito do povo japonês e até hoje influencia os japoneses. As virtudes do povo japonês tais como: diligência, laboriosidade, honestidade, lealdade e obediência são oriundos do Bushidô. Estas virtudes foram a força motriz para a reconstrução e a prosperidade do Japão.
No ano de 1904 quando eclodiu a guerra entre o Japão e a Rússia, o conde Kaneko Kentaro, embaixador nos EUA, solicitou ajuda ao presidente Theodore Roosevelt para intermediar um pacto de trégua.
Na ocasião o presidente americano perguntou ao conde Kaneko o que era o Bushidô que frequentemente aparecia nos jornais. O conde Kaneko respondeu: “A sua pergunta veio na hora certa. Justamente neste momento tenho um livro chamado Bushidô escrito em inglês, de Nitobe Inazoh. Leia-o” e deu o livro de presente.
O presidente encomendou 30 livros, dos quais entregou 5 para seus filhos e os outros 25 para senadores, deputados, ministros, parentes e amigos. Ao entregar o livro de presente dizia: “Leiam este livro. Nós americanos devemos aprender o Bushidô, a filosofia natural do Japão que serve como orientadora de vida. Nós americanos podemos estudar e praticar sem nenhuma hesitação.”
O presidente compreendeu o Bushidô através deste livro e ficou muito mais entusiasmado com o Bushidô de 110 anos atrás. Posteriormente ele encomendou tatames, convidou um mestre de judô e praticou na residência oficial. Há mais de um século atrás o Bushidô japonês era elogiado e valorizao pelos americanos.
Os descendentes nipônicos que vivem aqui no Brasil receberam este espírito do Bushidô por seus antepassados. É do conhecimento de todos que os descendentes japoneses estão sendo altamente estimulados neste país.
Eu ensino Kendô na sede da Associação Saga Kenjinkan, com o espírito de ensinar jovens e crianças o Bushidô através da prática de Kendô, para que eles possam futuramente servir como elementos úteis à pátria.
Yoshiaki Kishikawa
SAGA (Hagakure - Kan)
7º Dan, Kyôshi
Dô, um caminho sem fim
Práticas esportivas como Aikidô, Judô, Kendô, Kyudô, Karatedô ou manifestações
estéticas como Kadô (arranjo de flores), Sadô (cerimônia do chá), sempre levam a palavra
DÔ, que pode ser traduzida como “Caminho”. Em seu sentido profundo trata-se de um
“Caminho Sem Fim”. Dado o primeiro passo nesse mundo, até morrer, o indivíduo
estará insatisfeito à procura da perfeição. Isso ocorre não só na parte técnica de cada
modalidade esportiva ou artística, mas em todas as manifestações ligadas à palavra DÔ.
Todas têm como objetivo aperfeiçoar o caráter através de regras rígidas de disciplina e
comportamento.
Essas artes marciais têm origem no Jutsu: Kenjutsu (Kendô) e Jiujitsu (Judô), cuja prática
referia-se somente ao aspecto técnico. Através do treinamento podia-se atingir facilmente esse
objetivo, mas faltava alguma coisa que era justamente o alfa, o aperfeiçoamento do caráter.
Este é o ponto em que as artes marciais se diferem de outras práticas esportivas. Existe
um comportamento disciplinar cujas regras foram rigidamente estabelecidas através do
desenvolvimento de cada modalidade. Não se trata apenas do aprendizado das regras, é
necessário a prática do Reigui (cortesia), de respeito ao adversário, do início ao fim de cada
treino ou disputa. Tanto no Judô como no Kendô ou Karatê por exemplo, antes de
iniciar o embate os lutadores devem se cumprimentar, obedecer as regras e rituais e, ao
final, independente do resultado, agradecer ao adversário. Outro ensinamento é a prática
da humildade, da modéstia - ao se tornar campeão, o lutador deve ser mais humilde ainda
e servir de exemplo aos outros.
As atuais artes marciais se originaram por volta do século XII, com a ascensão dos
samurais ao poder. Era uma época de constantes guerras internas e, a cada dia, os
samurais tinham que conviver com o perigo, com a morte. Esse é o espírito comum ao DÔ:
não apenas o respeito ao próximo, a disciplina, mas também de concentração espiritual.
O DÔ nasce com o código do Bushidô (Bushi - Samurai, Guerreiro e Dô - Código,
Caminho), que foi estabelecido desde o século XII, no períoda Kamakura, no primeiro
governo militar. Entre outros preceitos, ele institui a posição hierárquica do senhor feudal
(Daimyô) e dos vassalos. Somente a partir do século XVII, depois da unificação do Japão,
o Xogun Tokugawa Ieyasu organizou o sistema Bushidô e estabeleceu a obrigatoriedade de
estudos aos samurais. Uma dessas especialidades foi o Shushigaku, cuja base principal é o
Confucionismo, e que se transformou no principal preceito ético da classe samurai.
Referia não somente ao relacionamento entre o senhor feudal e vassalo, mas também entre
pais e filhos, entre marido e esposa, além do culto a outras virtudes como benevolência,
lealdade, honestidade, disciplina, responsabilidade e honra.
Durante os 300 anos do xogunato Tokugawa, esses princípios não só se transformaram
em prática moral da classe dominante, mas se estenderam para todo o povo japonês.
Mesmo com a restauração do poder imperial, com a ascensão de Meiji (1868), esses
princípios éticos continuaram profundamente arraigados na cultura japonesa.
Ultimamente, qualquer coisa tem sido motivo para utilizar a palavra DÔ. No entanto,
quando cheguei ao Brasil na década de 60, essa tradição do espírito DÔ era seguido à
risca. Eu praticava Judô e, naquela época, se algum aluno se envolvesse em brigas na rua
era expulso da academia. Atualmente, como professor de Kendô, ao perceber que a pessoa
está interessada em praticar Kendô somente para ganhar nas competições, aconselho-o
a desistir. O nosso objetivo é, através do manejo da espada, contribuir para a formação
pessoal, para o aprimoramento espiritual.
Yoshiaki Kishikawa
SAGA (Hagakure - Kan)
7º Dan, Kyôshi
Video Cast com Kishikawa sensei da Folha de São Paulo
André Tobias Mendes, 8, recebe título de 1º kyu
Praticante de kendô e iaidô há três anos, o paulista André Tobias Mendes, de 8 anos, acaba de protagonizar um feito inédito.
Por: Aldo Shiguti
Em julho, durante a realização do Campeonato Brasileiro, ele prestou exame e foi aprovado com o 1º kyu de iaidô, o primeiro passo para a graduação. “É a primeira vez no Brasil que um praticante de 8 anos consegue obter o título. É algo raro até mesmo e na Europa, onde o kendô é mais difundido”, explica o professor Yoshiaki Kishikawa, que aceitou o “desafio” de treinar o menino prodígio.
“Apesar de não existir um limite para prestar exame, geralmente isso ocorre a partir dos 12 anos de idade”, conta Kishikawa, lembrando que o pequeno Tobias treina arduamente na Academia Saga desde 2010. “Ele se esforçou e conseguiu. Sua dedicação deve servir de exemplo às novas gerações”, afirma o professor, explicando que não temeu pelas críticas. “Muitos poderia achar prematuro, mas se não é proibido, não tem problema”, garante...
Fonte:
http://www.nikkeyweb.com.br/internas.php?noticias&interna=12704&tema&submenu&subx